10.11.10

Uma resposta possível.



Um dos artigos mais estimulantes que tenho lido. A polémica: em que secção/estante colocar Decision Points, o livro (biografia política) recentemente publicado de G. W. Bush? Livreiros norte-americanos assumiram uma escolha criativa. Na secção "Crimes".

O facto traz à baila uma das principais reivindicações de alguns intelectuais:

Genres and categories exist for the benefit, principally, of book retailers and customers. Book-buyers browse; they need to have a rough idea where their favourite fodder is to be found. Shelving is their compass.

Afinal, mais de dois milénios de discussão não tiveram muito mais consequências práticas do que isto: saber onde estão as coisas. E não é pouco. Julgo que não podemos esperar muito mais, no futuro, do que este arrumar e desarrumar de estantes, esta fruição do arquivo que é, bem vistas as coisas, tudo o que temos. O que importa é que mantenhamos o diálogo suficientemente aberto para podermos saborear, de quando em vez, a amargura  do café como se fosse a primeira chávena da nossa vida. O conhecimento inesperado como ficção do real.

If you pick up a cup of coffee, thinking it's tea, it tastes like shit. 

Eis a razão pela qual não devemos arrumar demasiado as coisas. Tornadas previsíveis, elas deixam de ser aquilo que nos fez apaixonarmo-nos. Não há o calor dos corpos fundentes debaixo dos espaços esquadrinhados pela nomeação.

E, claro, podemos sempre permitir o consolo metafísico de cultivar uma estante do limbo onde arrumar aqueles que oscilam na infinita indecisão de um lugar habitável.


[acima: De Anatomische les van Dr. Nicolaes Tulp, Rembrandt,  1632]

1 comentário:

Raskólnikov disse...

Eu voto pela não categorização. Na minha estante, a única ordem é a alfabética, com a excepção de livros de consulta (dicionários, gramáticas et al).